"SECUNDUM VERBUM DEI", um passo para o lado do evangelho
Texto por: Diego Lopes
Porque houve reforma?
Há mais ou menos quinhentos anos atrás, um jovem chamado Martinho Lutero, saindo de seu monastério fixou suas 95 declarações ou teses na porta da igreja de seu vilarejo em Wittenberg, a porta da igreja funcionava como uma espécie de mural público e sua intenção era um convite ao debate sobre as vendas indevidas de indulgências e as grandes preocupações de riqueza no papado. Lutero, então, se tornou o rosto de uma reforma que já vinha acontecendo na igreja, que mais tarde seria conhecida como reforma protestante.
A venda de indulgências era um dos grandes negócios no tempo do jovem monge, "assim que a moeda cai no cofre, sobe a alma do purgatório” essa era a frase que os negociantes usavam para promover a venda. A tradição pregava que existia uma espécie de ante-sala para o céu, chamado purgatório, aqueles que morriam na graça de Deus, mas não estavam completamente purificados iam para uma sala de espera para o céu (purgatório), pois tinham a salvação eterna, porém precisavam passar pelo purgatório para serem limpos e atingirem a santidade necessária para entrarem no reino dos céus.
Como o purgatório era uma sala de espera e essa sala tinha um certo nível de sofrimento, as indulgências começaram a ser comercializadas. As indulgências era uma espécie de ingresso para o céu, elas compensavam as penitências, no caso de compra o fiel que fosse para essa ante-sala depois de sua morte, passaria menos tempo ou não passaria tempo algum no purgatório, tudo dependia do valor pago pela indulgência que era comercializada pela igreja católica, Johann Tetzel (1465-1519), tesoureiro do papa era quem vendia e promovia as indulgências aos fiéis.
A igreja estava abusando de sua autoridade que naquele tempo era toda dela, o povo não tinha acesso a Bíblia como o clero tinha. Lutero então, vendo todo o trabalho de Tetzel e as injustiças do papado ficou revoltado e não concordou que o perdão de Deus poderia ser vendido. Assim surge em um mural público na porta da igreja do castelo em Wittenberg as 95 teses de Martinho Lutero.
A reforma foi um processo
Lutero não foi o único reformador dessa época, na verdade o mais correto seria chamar de "as reformas protestantes". Ulrico Zuínglio e João Calvino também fizeram parte desta reforma, eles tinham ênfases diferentes, mas concordavam em uma mudança: todos eles queriam estar mais perto da palavra de Deus. Lutero era um reformador que rejeitava todas as práticas que iam contra a bíblia, Zuínglio era um reformador diferente, ele rejeitava todas as práticas que não estavam na bíblia, para ele o que a bíblia não fala, não se faz, Já Calvino era um reformador mais intelectual, pensador e sistematizador, Calvino colocou no papel aquilo que pode-se chamar de doutrina básica reforma protestante da época, Calvino sistematizou a reforma protestante.
Todos os reformadores contribuíram em certa medida para que a reforma acontecesse. Porém algo que deve ser lembrado, principalmente porque esses homens e mulheres eram seres humanos também, a reforma teve seus equívocos muitas vezes extremos, sendo que em alguns casos até mesmo a morte daqueles que escolheram não ser adeptos a reforma. Conclui-se que todos foram necessários para que a reforma acontecesse, mesmo que com diretrizes diferentes em alguns casos, todos os reformadores queriam estar mais perto do evangelho, queriam estar mais perto do que a palavra de Deus falava.
A reforma tem impactos até os dias de hoje, ela mudou o mundo literalmente, além da religião, transformou áreas da cultura, como arte, educação, política e economia, áreas que estavam aprisionadas pelo clero, a reforma trouxe algo mais a acessível a todos. O objetivo nunca foi separar, mas corrigir e é por isso que a palavra reforma atinge seu objetivo de tentar dar um nome para aquele movimento na igreja e sociedade, reforma traz a ideia de aprimorar ou melhorar algo que já havia começado. Infelizmente nem todos estavam com o coração aberto para essa mudança, mas graças a Deus por esse despertar.
O coração da reforma
Era inegável que a igreja não estava no caminho certo, a comercialização do perdão de Deus contrariava tudo o que estava nas sagradas letras, não se pode resumir a reforma em apenas uma reação contra um problema explícito, a reforma não foi apenas um distanciamento ao papado e suas heresias, antes foi um movimento para mais perto do evangelho, era isso que se encontrava no coração da reforma. Lutero em uma das suas defesas contra o advogado imperial responde:
"Vossa Majestade Imperial e os Senhores Lordes exigem uma resposta simples. Aqui está ela, clara e direta. A não ser que, pelas Escrituras, eu esteja convicto do erro [...] e que minha consciência esteja cativa pela Palavra de Deus: não posso e não vou me retratar de nada, pois fazer isso contra a nossa consciência não é seguro nem é uma opção para nós. A esse respeito, tomo minha firme posição. Não posso fazer de outra forma. Ajudai-me, Deus. Amém."
Claramente o coração da reforma era um passo para o lado da bíblia, somente a bíblia, era um passo segundo a palavra de Deus. Naquele contexto a tradição tentava enterrar as verdades bíblicas como o "justo viverá pela fé" pela "o justo viverá pelo seu poder aquisitivo". A reforma era necessária.
Secundum Verbum Dei
A grande ênfase entre os reformadores era a palavra de Deus, a Bíblia. Alguns anos mais tarde uma frase ficou conhecida: "Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei", (A igreja reformada e sempre reformando de acordo com a Palavra de Deus”), essa frase tem três afirmativas: 1) a igreja passou por uma reforma, 2) essa reforma irá continuar 3) será sempre segundo a palavra de Deus. Quando se fala em qualquer questão relacionada a Deus e a vida cristã a palavra de Deus precisa ser a base, a Bíblia precisa ser o solo em que o crente pisa.
Como citado acima, o coração da reforma estava na palavra de Deus, mesmo que os reformadores com suas ênfases diferentes em alguns escopos específicos, todos eles queriam estar – em sua reforma – mais perto das escrituras. A reforma protestante foi um marco não só para a igreja, mas um marco para todo o cristianismo, suas marcas romperam com questões tradicionais da igreja católica daquele tempo, onde o verbo de Deus foi corrompido.
"Secundum verbum Dei" (segundo a palavra de Deus) precisa ser a norma fiel na vida do crente, Paulo em sua carta para Timóteo cita: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." (2Tm 3.16-17), conforme a Bíblia de estudo NAA pontua: "a fim de que refere-se ao versículo precedente (v. 16), indicando o propósito da Escritura para o crente." (BÍBLIA NAA, 2018. p. 2233). Este é o propósito da palavra inerrante, suficiente e infalível de Deus.
Glórias a Deus pela Reforma!
Referências
Bíblia de estudo NAA
Reforma Protestante: 31 de Outubro de 1517 - Ministério Fiel
Sempre Abusando de Semper Reformanda - Ministério Fiel
O uso Adequado do Lema Reformado, “semper reformanda” - Ministério Fiel
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Foto de Joachim Schnürle na Unsplash
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